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PROCEED TO THE ROUTE OF REMEMBERING”

Opening May 4, 2024, 9 pm

May 4, 2024 - September 14, 2024

Lapa do Lobo Foundation

Catalogue PDF

Exhibition presentation

António Olaio presented the exhibition.
Video HD, 16:9, colour, sound, variable dimensions, 10’54’’

Luís António Umbelino presented the exhibition.
Video HD, 16:9, colour, sound, variable dimensions, 17’50’’


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“A experiência torna-se objecto de experimentação. Ao mesmo tempo, o sujeito projecta-se nele, como se o movimento do fenómeno coincidisse com o movimento do pensamento. Isto oferece à nova experiência construída uma extraordinária proximidade, ou mesmo fusão com o sujeito, o qual, no entanto, conserva a possibilidade de modular a sua distância com o objecto - permitindo desta forma observá-lo de diferentes pontos de vista [...]”

José Gil, in «Caos e Ritmo», p.367.

Cada ramo de uma árvore é uma mão; que se estende para oferecer ajuda! 

As linhas, sombras e manchas que vemos, quando fechamos os olhos, mais parecem vislumbres de pequenas percepções visuais cujas formas tentamos reproduzir numa folha de papel, com a esperança de poderem, no desenho, significar alguma coisa. Podemos entendê-las de outra maneira: como se os olhos fechados quisessem guardar a memória dos traços visíveis antes vistos.

Que olhos são estes? 
Que corpo é este, que “guarda” linhas e manchas no escuro depois destas desaparecerem?

É certo que essas linhas, sombras e manchas têm uma explicação científica. Porém, há outra explicação possível, outro ponto de vista que pode ser assumido relativamente a esta experiência — já que é, precisamente, de uma experiência que se trata. Com efeito, é através desta experiência, da repetição deste gesto de abrir e fechar os olhos que surgem — sem localização determinada, com uma presença efémera, transitória — linhas, sombras e manchas luminosas em fundo negro.

Esses corpos flutuantes provocam outra forma de presença que rapidamente se transforma em ausência. Abrem-se e fecham-se os olhos. Suspende-se a explicação científica da fototransdução e abrem-se campos, na nossa experiência interior, a novos entendimentos sobre essas formas de contornos diversos que nos activam memórias.

O centro da exposição é pensar a memória do corpo sedimentada na memória dos lugares, dos objectos, dos movimentos, dos sons e aromas, na metáfora das palavras. 
Decide-se abordar o tema recorrendo ao nosso horizonte artístico, articulando-o a partir da parte teórica. Ou seja, o que motiva este projecto são acontecimentos vividos e a possibilidade de os manter presentes numa memória que pode ser pensada simultaneamente pelo lado do corpo, dos lugares ou dos objectos, através de imagens visuais construídas.
O catálogo, ao apresentar mais obras do que as que estão na exposição, aspira contribuir para uma melhor e mais ampliada leitura das obras expostas.
O núcleo central da presente exposição/instalação é composto por diversos objectos, imagens e uma instalação áudio e de vídeo, distibuídos em seis séries.  

1. “Proceed to the route through the lines”

Grupo constituído por uma pintura (técnica mista) em tela de linho, com a dimensão de 50 x 70 cm e nove pinturas (técnica mista) em tela de linho, com a dimensão de 16 x 22 cm. 

2. “Cross the paths of strange atmosphere”

Este grupo de imagens é composto por nove fotografias, com a dimensão de 50x70cm e um objecto de memória.

3. “Follow the atmospheric absent body” 

Série de quatro fotografias, com a dimensão de 50 x 70 cm Incluímos ainda uma instalação sonora “Lugar onde o som fica definido... em pensamentos”.

4 . “Go to memory lane”

Este grupo de imagens, seguindo a ordem de apresentação, é composto por quatro fotografias, com a dimensão de 50 x 70 cm e, 63 slides (obtidos no período compreendido entre 1977 e 2019), compondo uma caixa de luz com as dimensões de 50 x 50 cm. 

5 . “Corpo desocupado”  

Duas peças de roupa. Um vídeo e diversos objectos de memória são apresentados neste ensaio.

6. “Ongoing repetitions and other shadows”  

As peças realizados para este grupo/ensaio, são linhas desenhadas a carvão e enquadradas em caixilhos de slides, que se repetem ao longo de nove trabalhos. Apresentamos, nesta exposição, o último trabalho no qual somos confrontados com datas comemorativas e, espaços “a branco ou negro”, intervalos onde, a memória ainda não foi recuperada.

Esta exposição, promovida pela Fundação Lapa do Lobo e apresentada por António Olaio, Cláudia Cravo, Luís António Umbelino e Rita Gaspar Vieira, deve ser entendida também, portanto, como um processo de investigação que reflecte sobre a estrutura conceptual que temos desenvolvido em torno dos temas da memória e da corporeidade, utilizando linguagens artísticas como o desenho e a pintura, mas especialmente através da fotografia, do vídeo ou do áudio.
Nesta instalação, os objectos, acompanhados por atmosferas do passado, activam a memória. No momento que recordamos, uma outra atmosfera, a do presente, é capaz de alterar os acontecimentos do passado e vice-versa. Sem nos apercebermos, o corpo gere estes dois momentos e, como resultado, surge uma outra memória quando estamos perante uma imagem, um objecto, um aroma ou um som. Os interstícios da memória são partes da invisibilidade desta experiência (eles são intervalos incluídos na caixa de luz, representados em quadrados aparentemente sem imagens), fazem parte do caminho que seguimos para a realização deste projecto e respectivos ensaios.
Os ensaios visuais são realizados para experimentar e testar esse caminho, para apaziguar o cepticismo de algumas das reflexões. As “Atmosferas”, o “Corpo Desocupado”, a utilização de objectos, de sons ou de aromas são porventura os ensaios onde os hábitos corpóreos podem dar forma a vias de acesso para descobrir o visível, o lado espacial da memória.
A memória atraída pela vontade de recordar, que acontece quando estamos perante os objectos (acompanhados pelas suas atmosferas) permite o entrelaçamento entre o espaço e o tempo numa estreita relação com o esforço e a duração (sempre finita) da necessidade de activar uma recordação, que não é só do passado mas também do presente. Ou seja, a cada momento, perante um objecto, um aroma ou um som a experiência do tempo é realizada em nós.
As imagens apresentadas não são mais do que repetições de recordações, sempre com variações. Elas representam o esforço de reconstruir uma memória, porque a memória não se extingue numa representação do passado, mas sim na reconstrução ou na recuperação constante de um esforço do passado. É através desse esforço, nesse caminho percorrido (do passado ao presente) na recuperação do “Eu”, que acabamos por resgatar a memória “inconsciente”, aquela que parecia perdida na invisibilidade do esquecimento e que, subitamente, sem percebermos como surge, na presença de um objecto, de um som, de um aroma, de uma sombra, de uma atmosfera, se faz presente, visível, tangível.
Para mais informação sobre esta exposição consulte o catálogo (PDF), com textos de Luís António Umbelino, Luísa Nazaré Ferreira e Rita Gaspar Vieira. 

[...] O som que acompanha uma imagem assinala o ritmo com que se manifesta uma “estranha presença do outro por toda a parte e em parte alguma” [...]

Luís António Umbelino, in, «Memorabilia: o lado espacial da memória (na estreia de Merleau-Ponty)» p. 93. 

Lugar onde o som fica definido… em pensamentos
Da série:
”Follow the atmospheric absent body”
Gravação de áudio, 15' 52'' (loop)

Complementa este ensaio uma gravação de áudio, apresentada na sala principal, que resulta de um trabalho de recolha e edição de sons com a colaboração de João Ricardo. Adicionámos ainda os temas musicais, licenciados por ArtList.io: Collection - Black Rain by Jimmy Svensson; Diversity - The Path Of The Himalayas by Maxime Herve; Waiting For The Dawn - Waiting For The Dawn by Salt Of The Sound; Thoughts In Motion - Thoughts In Motion by Tristan Barton; Revelations - Underscore, V.a by Tristan Barton.  

[...] O caminho de campo (Heidegger) é um lugar da eterna repetição.

[...] A “dança da roda” é também uma fórmula temporal,
um eterno voltar em torno de si próprio.

Byung-Chul Han, in, O Aroma do Tempo, pp. 84-85  

A dança da roda, 2022
Da série:
”Corpo desocupado”
Vídeo HD, 16:9, cor, som, dimensões variáveis, 3’59’’ (loop)

Colaboração Inesa Markava (performance) e Frederico Nunes (saxofone).  

Vídeo HD, 16:9, cor, som, dimensões variáveis, 3’59’’ (loop)